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THEREZINHA RUSSO
( RIO DE JANEIRO )

 

Therezinha Russo Russo. Trabalha na empresa Autônomo.

Estudou na instituição de ensino UFRJ.

Mora em São Sebastião De Rio De Janeiro, Rio De Janeiro, BraSil

 

POESIA VIVA em revista. v. 6 / Leda Miranda Hühne et al. Rio de Janeiro: Uapê, 2010. 166 p. ISBN 978-85-85666-90-3
Ex. enviado (autografado) gentilmente a Antonio Miranda pelos editores Leda e Augusto
 

 

esquecimento

porque as palavras
deslizam pelo vento
as lembranças se desfazem
enquanto uma dor pequena
insiste em ficar
no canto escondido do corpo

se a claridade de uma lembrança
traz o ritmo do que foi
o mundo retorna
se ela se vai no movimento da vida
as reservas
de amor e de ódio escurecem
jogam a alma para fora de si
a procurar
as novas seduções


O poeta canta:

o surfista e o mar
ou a batalha

as forças se confrontam
as ondas ferozes de Iemanjá
acossam a quem desliza
sobre as suas dobras
feitas das águas do mar

a dança das ondas
é o brinquedo mortal
do surfista ingênuo
cheio de coragem
atravessa vem no meio
de um coração
que se desdobra
em curvas barrocas
que avançam e sustentam o seu poder

o surfista manobra o seu veículo
sobre o corpo de Iemanjá
um corpo molhado até a alma
que ele pensa domar

no entremeio das ondas
o intruso cai
e se ergue como um deus vitorioso
a onda se desfaz
ao longe
o sorriso de Iemanjá desponta
outras ondas já estão prontas
para a guerra



o nascimento do sentido — um mito

o poeta carrega as palavras
que emergem das pedras molhadas
elas oferecem sentidos     sobre    outros
véus
que escondem o amor
e o penar

nos esconderijos longínquos
a pé
o poeta chega
às cavernas
entre os rios
e o inesperado vem

vem
das passagens tortuosas
traços e riscos
plantam-se no corpo
na pele
e a poesia floresce
sons
sopram              acalantos
afagos
em línguas estrangeiras

e assim
o poeta veste o poema


II. o corpo e o espírito
ou o jogo da vida

quantas inteligências temos?
tantas
que a luta ajusta
a hierarquia dos seus exercícios.

a cada instante
o corpo expõe
um desenho de si
a respirar o aroma das flores

mas

a consciência abandona o mundo
se o corpo
não lhe dá aconchego
a potência
que vem do arranjo dos órgãos
no tempo dos seus movimentos
quando a vida se agita
e o espírito se alegra
com a ilusão
de parecer o senhor da terra
que espera ganhar o céu
quando o homem esquece

no limite das dores profundas
e dos voos das aves cantadoras
no momento de um tempo
sem frente                    nem costas
o homem esquece
a sua forma precária
e recebe o que vem

aqui       ali
amplia o recorte de si
no ilimitado
de um ar azul
sem figura
somente
um ar azul
que traz o que não mais
comporta em si
então
o homem recolhe pensamentos
jóias pequenas
penas coloridas dos pássaros
que se fazem palavras
e traduzem ventanias
essências que não se pronunciam


*

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Página publicada em novembro de 2023


 

 

 
 
 
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